segunda-feira, 5 de março de 2012

O Mundo da Barbie ( Crítica: Jovens Adultos / 2011)

Muitos são orgulhosos por causa daquilo que sabem; face ao que não sabem, são arrogantes.



Alguém aí já parou pra pensar como seria o mundo da Barbie? Barbie, aquela boneca famosa, sonho de consumo de toda menina suficientemente tomada pela futilidade dos alvos anos da infância, querida por sucessivas gerações de garotas ricas, loiras, às vezes, morenas, fascinadas por cabelo e maquiagem. O novo filme do diretor Jason Reitman (Amor sem Escalas), Jovens Adultos (Young Adults, Eua. 2011), me fez pensar como seria a vida de Barbie, a bela menina com um toque de vida de interior, mas com sonhos grandes demais para o seu mundo real.

Barbie seria a menina mais popular, a mais bela, a “cheerleader”, arrasando corações pelos corredores coloridos de uma escola pública do interior de Minnesota. Teria o namorado mais bonito, seria amiga das garotas mais legais. Mesmo tendo uma vida que toda garota pediu a Deus, Barbie não se contentaria com a vida mórbida que sua cidade lhe proporcionaria. Aí viriam as grandes mudanças. Barbie precisava ser conhecida pelo mundo inteiro.



A segunda parceria entre Reitman e a roteirista Diablo Cody, vencedora do Oscar pelo roteiro de Juno (também dirigido por Reitman), já era uma coisa esperada. Indiscutivelmente, parece que um nasceu para o outro. Reitman tem uma mão muito leve e uma sensibilidade muito característica que transborda a tela do cinema. Diablo Cody fica com a função de garota rebelde da história: sarcástica, irônica e poderosa. Seria ela a Barbie do mal, que junto com Reitman consegue transformar a protagonista de Jovens Adultos numa belíssima teoria para a vida da mulher Barbie.

Mavis Gary (Charlize Theron, linda como sempre) é a típica menina que nasceu no interior e, por força de uma arrogância tipicamente adolescente, casou-se e resolveu tentar a vida na cidade grande. Por hora, o caminho de Mavis parece ter dado certo: dona de seu próprio nariz, possui toda a autonomia de sua vida amorosa, preferindo noites rápidas com rapazes recém-conhecidos e, ainda, tem certo sucesso profissional. Gary é escritora de uma série destinada a jovens adultos. Gary é a futilidade em pessoa e a vida lhe permite isso, suas histórias baseiam-se numa protagonista que remete muito a Bella de Crepúsculo, insossa, nariz empinado e infantilóide. Kendal, protagonista da série, tem inspiração nas irmãs Kardashians.



Por mais que Mavis pareça ter finalmente dado certo na vida, ela ainda detém de um casamento falido, uma vida solitária e uma série literária a qual não recebe devidamente os créditos por escrevê-la. Certo dia, a mulher recebe um e-mail com a foto de um bebê. O bebê é filho de seu antigo namorado da época do colégio, Buddy Slade (Patrick Wilson, o mesmo personagem a vida inteira, o Ken), agora casado com outra mulher. Mavis decide voltar a cidade-natal para recuperar o antigo namorado e levá-lo com ela para a cidade grande. A mulher faz desse seu objetivo essencial para continuar a viver, seria a falta dele o fator responsável pela sua vida incompleta.

O roteiro, muito bem escrito, não permite que o espectador bata de frente com Mavis, nos tornamos aliados dela, mesmo sabendo que tudo vai dar errado, e é aqui que cabe a genialidade da roteirista. A cruzada feita por Mavis atrás de seu objetivo causa ao espectador uma vergonha alheia de explodir os tímpanos. É constrangimento a flor da pele. Seja pelo aparente problema de alcoolismo da personagem ou pelas investidas pouco convencionais no antigo namorado.



Quem aparece para segurar as pontas da protagonista é Matt Freehauf (o ótimo Patt Oswalt). Matt conhece Mavis dos tempos do colégio, a mulher, ao contrário, não se lembra do sujeito. Porém, cria-se uma cumplicidade muito grande entre os personagens, que aparentemente são como água e petróleo. Não existe encaixe entre dois tipos tão disfuncionais na sociedade. Mais uma vez, o trabalho da roteirista permite que as personagens coexistam na mesma ideia do certo e errado, da arrogância e da humildade, da pena e do reconhecimento. Sem clichês, Matt não vem pra ensinar nada a Mavis, que é muita imatura ou inconsequente para entender ou apreciar algo que vá além de sucesso e dinheiro, o ensinamento acaba vindo a nós, como se fosse um alerta. Mantenha seus passos leves e terá tudo o que desejar.

A pena que Mavis rapidamente associou aos moradores de sua antiga cidade se volta contra ela, se expande pelos poros da mulher e a derruba aos olhos de quem ela achava que a admirava. Era tudo pena? Achava que todos queriam ser como eu. E aqui se esconde o pecado mortal de Mavis: achar que o mundo de Mercury (a cidade-natal) se ajoelharia a seus pés.



Charlize Theron faz um trabalho único em frente às câmeras de Reitman. Se o papel fosse dado a uma atriz que não tivesse sua beleza e seu talento, provavelmente o público a rejeitaria e a sensação primordial que o filme provoca no espectador seria nula. Elegante, dona de um presença artística incomparável, o trabalho de Charlize poderia estar entre as grandes atuações do último ano. Um belo presente aos fãs da atriz.

Concluindo a resenha, voltamos a ideia da Barbie. Eu imagino perfeitamente a Barbie como uma alcoolatra, derrotada em quesitos sentimentais, forçada a andar para frente pelo peso de sua popularidade no colegial, só não vejo a Barbie voltando atrás, não enxergo coragem e visão na boneca, só é nítido uma intocabilidade absurda. Por isso, Jovens Adultos não é a história de uma Barbie, e sim, de uma Suzy que tentou a vida toda se tonar uma Barbie.

2 comentários:

  1. Gustavo, parabéns pelo texto. Um dos melhores que li sobre esse filme. A analogia com a Barbie ficou genial. Ainda não assisti, mas agora virou obrigação. Desconhecia sua pagina, vou linkar na minha. Apareça tb! Abração!

    http://espectadorvoraz.blogspot.com/

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