“Mais cedo ou mais tarde, a teoria sempre acaba assassinada pela experiência.” (Albert Einstein)
Caminhos servem para serem trilhados. Escolhas são, mais do que fruto de devaneios, caminhos a serem trilhados. Quem passa incólume pelas escolhas, dificilmente cria experiência. Quem nega caminhos, improvavelmente lembra-se da vida que levou. Experiência é, inegavelmente, fruto dos nossos erros. Às vezes, e na maioria delas, traz sofrimento, culpa, arrependimento.
Educação (An Education, Inglaterra. 2009), dirigido pela dinamarquesa Lone Scherfig (recém-saída do Dogma 95, o mesmo que Lars Von Trier ajudou a criar), promove uma semi-discussão sobre as escolhas da vida e como elas podem afetar na construção moral de um ser humano. Através da contraposição entre educação, essa que é ensinada dentro de escolas, e experiência, adquirida da vivência humana, o longa espreme no espectador uma experiência catastrófica para uma menina de 16 anos no início da década de 1960.
Muitos dizem que o longa não insere nada de novo a esse tipo de discussão, já que o tema vem sendo pormenorizado pelo Cinema há muitos anos. Mas, é clara a diferença que existe entre esse filme e os tantos outros que se propuseram a discutir o papel feminino na década que iria revolucionar a vida da mulher dentro de uma sociedade, até então, machista. Essa diferença não reside só em preparações técnicas de cinema de primeira, como o exuberante figurino e a estonteante fotografia, mas também por se tratar do melhor roteiro de um dos grandes escritores das últimas décadas, Nick Hornby, o mesmo de Alta Fidelidade (2000) e Um Grande Garoto (2002). Dessa vez, Hornby adapta das memórias da jornalista inglesa Lynn Harber, um roteiro direto, pleno e, sem dúvida, sua melhor parceria com a sétima arte.
Jenny (Carey Mulligan, sensacional) é a menina de 16 anos que ficará indecisa entre dois distintos modos de vida. O primeiro trata-se da educação, mais pura e gradual que pode existir. Seu pai, interpretado pelo sempre competente Alfred Molina, impõe sobre a garota uma educação rígida, em que Jenny tem que ter as melhores notas da sala, para tentar pleitear uma vaga em Oxford, o lugar que Jenny enxerga como ideal. O segundo, vem na forma um homem mais velho, David, que ganha vida através do talento sempre esnobado de Peter Sarsgaard.
Vale lembrar que o pai de Jenny, apesar de ser muito rigoroso quanto aos estudos da filha, nunca impediu que ela fizesse nada, tanto é que quando a jovem conhece David, os pais de Jenny logo se encantam pela majestosa presença do rapaz. David chega na vida de Jenny como a promessa de uma vida diferente da qual ela levaria, caso continuasse se dedicando fervorosamente aos estudos, já que em nenhum momento ele é dispensado, apenas é tratado com menos importância, conforme a menina vai se rendendo aos encantos de David, ou melhor, aos encantos da vida que David lhe proporciona.
David é o desejável bon vivant. Dono de uma cultura extensa, que vai desde conhecimento da Antiguidade Clássica até o ainda desconhecido rock "yeah yeah yeah", mais tarde traduzido pelos Beatles, frequentador de cafés famosos, restaurantes caros e teatros particulares, David vai conquistando Jenny sem nenhum esforço. A menina que já era fascinada pela cultura francesa, por música clássica, por roupas finas, se rende a essa explosão atômica que passa a dar rumo a sua vida. Os estudos estão cada vez mais esquecidos, só a presença, sem nenhuma ideia construtiva, vai concretizando a vida acadêmica de Jenny. A educação passa a ser um investimento a longo prazo, enquanto um homem rico pode surpreender suas espectativas quanto a vida.
É certo que alguns atores foram muito mal aproveitados nessa película, como é o caso da veterana Emma Thompson, que surge como a diretora da escola que Jenny estuda. Ameaçando uma singela revolução aos costumes dentro da escola, Jenny encontra na diretora um empecilho feroz ao abandono da educação como prioridade da vida da mulher inglesa. O filme ainda traz Dominic Cooper e Rosamund Pike como os amigos de David que ajudarão Jenny na abdução ao novo estilo de vida.
É notável a mão leve da diretora ao traduzir uma história que podia cair facilmente no melodramático. Ao contrário disso, a diretora impõe um ritmo próprio ao longa, impedindo que a história fique tão blasé, como tem nomeou a crítica especializa na época de estreia do filme. Mesmo sendo reconhecido com várias indicações a diversos prêmios, inclusive o Oscar de Melhor Filme, a crítica insiste em diminuir a obra sem nenhum por que. O filme tem sim seus méritos e muito grandes por sinal, como é o caso do trabalho espetacular dos atores.
A novata (na época) Carey Mulligan impressionou o mundo com o retrato forte e inteligente dessa garota, que mesmo aliada a uma educação nata, deixou-se levar pela lábia fina de um homem culto. E aqui se encontra os dois lados da educação primorosa: enganar e ensinar. Mulligan, que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz e perdeu injustamente para Sandra Bullock naquele ano, é considerada, hoje, uma das atrizes mais promissoras do mundo, já que está envolvida em grandes trabalhos, com grandes atores e grandes diretores. Peter Sarsgaard não fica atrás, e a cada papel mostra mais um pouco de seu talento, que até agora custa a ser reconhecido pelas grandes premiações.
Os limites de bom senso da personagem parecem todo tempo transponíveis, é como se o preço de ser enganada valesse diante da vivência que ela se entregava. O final, embora um pouco previsível, reflete bastante essa segurança que a personagem de Carey parecia passar a cada cena, a cada diálogo, apesar de tudo ela sabia seu fim e o desejava, talvez como uma nova versão de uma feminista. Outro grande suporte das emoções dos personagens está na fotografia, que encontrou nas cores cruas uma solidez causticante ao produto final, permitindo uma dose infinita de paixão e crueldade aos atos impensáveis dessas criaturas humanas.
A direção de arte do filme também é outro espetáculo a parte, que junto com o elenco magistral, promove uma experiência no mínimo reflexiva ao espectador. Acho muito cruel rebaixar Educação ao posto de grande vilão da inteligência humana. Não é todo mundo que planta cinema, às vezes, essa pode ser a primeira experiência de um espectador quanto ao tema. Por isso, deve sim, ser respeitado e divulgado como uma obra memorável.
Este filme está na minha sessão ''so cute'', eu simplesmente adorei tudo neste filme , desde o elenco passando pela trilha sonora ( Da-lhe Juliete greco) e terminando na incrivel história ''real''....
ResponderExcluirAdoro Educação. Além da excepcional Carey Mulligan (que entrega sua melhor atuação, na verdade, em Shame), Peter Sarsgaard e Alfred Molina mereciam maior reconhecimento (sobretudo das premiações). O final, que você apontou como previsível (e concordo), não só é necessário como algo diferente seria um tanto quanto equivocado. Ademais, a fotografia, figurinos, direção de arte e tudo mais são belíssimos.
ResponderExcluirCarey Mulligan me surpreendeu muito. o último filme que assisti com ela foi "Orgulho e Preconceito" - bem novinha, um papel sem muito destaque... alguns podem achar este filme clichê, ou seja lá o que for. mas a mim, surpreendeu bastante. detalhe também para a trilha sonora - fantástica ;)
ResponderExcluirabç.