sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pela Última Vez, Nós. (Crítica: Amantes / 2008)

"Pobre é o amor que pode ser descrito."


O que deveria ter sido o último filme da carreira de Joaquin Phoenix, agora já há distantes quatro anos, se revelou, então, um dos melhores filmes daquele ano. Surpresas? Sim. Joaquin Phoenix não só não encerrou a carreira, como nos dias de hoje emenda projetos grandiosos um atrás do outro, um deles é a parceria inusitada entre o ator e o excelente diretor Paul Thomas Anderson em “O Mestre”, provável “papa Oscar” na próxima edição do festival.

Phoenix já mostrou que tem cacife pra interpretar personagens profundos e tempestuosos. Tanto em Gladiador (2000), quanto em Johnny & June (2005), no que deveria ser o auge de sua carreira ao dar vida fictícia ao cantor Johnny Cash, Joaquin produziu trabalhos densos, estudados em seus mais ínfimos sentimentos e motivações, mas (agora uma opinião pessoal) nada tão completo e admirável quanto em Amantes (Two Lovers, EUA. 2008). Embora o filme, na maioria das vezes, tenha passado despercebido pelo grande público, temos aqui uma obra inteiramente real, sufocada em prantos vivos de uma história praticamente não contada até aquele dia.


James Gray, diretor do filme, retoma uma parceria pouco festejada com Joaquin Phoenix. Não que fosse ruim, mas sempre passava despercebida. Quem se lembra do primo louco de Mark Wahlberg em Caminhos Sem Volta (2000), lembrará de uma bela parceria entre o diretor e o ator. Porém, dessa vez, Gray estabelece uma linha tênue e muito mais sensorial (campo em que Phoenix leva bastante vantagem) para que o ator construa um personagem digno de reconhecimento pelo espectador, mesmo que esse reconhecimento seja, em grande parte, ponto de perda e sofrimento para quem assiste. Assim, Gray convence o público a acompanhar uma história impressionantemente sofrida do ponto de vista de um único homem: a emoção e suplantação de algo enorme, impossível de driblar ou esconder.

Leonard, personagem de Phoenix, acaba de tentar novamente o suicídio quando seu relacionamento amoroso dá-se, por fim, como acabado. Sem esperanças e ainda completamente desolado, Leonard volta pra casa dos pais, aonde finalmente esse homem maestrará suas mais íntimas angústias e seus mais ardentes desejos. Vale pontuar a relação subordinada que Leonard tem com seus pais que, embora muito carinhosos, não suportam e não compactuam com a depressão que o filho criará entre eles. Esses são a ficha razão da vida de Leonard. São os pais talvez os responsáveis por criar uma expectativa imensa na cabeça e no coração do filho.


É sabido que Leonard carrega nos ombros todo o peso do mundo e isso fica claro em cada cena que Joaquin Phoenix aparece (todas, vê-se aqui a tamanha bagagem emocional da obra), principalmente quando esse diz “eu te amo” e para nós, espectadores ou cúmplices, é nítida a tristeza, ou o drible e o esconderijo que não existem. Nessa nova tentativa de vida, Leonard conhece Sandra (Vinessa Shaw), tentativa dos pais de restabelecer a ordem familiar do filho. Apesar de ser um interesse amoroso, não é por ela que Leonard se apaixona, a surpresa se reserva nas escadaria de seu prédio, quando conhece a sensual Michelle, Gwyneth Paltrow numa absurda e concretizada chance de reciclar sua carreira.

Michelle soa como os ares de uma nova vida, uma opção ainda não tentada. A jovem mulher traz consigo todo o frescor de planos a serem idealizados, sexo a ser experimentado, loucuras a serem partilhadas. Ela é tudo o que ele buscava, mas não o que ela projetava. Leonard ainda sob as asas de uma família superprotetora e decisiva por ela acaba se tornando para Michelle, apenas mais um caso. Ela ama outro homem. E apenas o fato desse homem ser casado e consequentemente trazer uma porção de outras dúvidas, abre Michelle para a tentativa de viver essa paixão com Leonard.


Como um bote salva-vidas, Michelle acaba por se tornar uma ambição na vida de Leonard, que ainda tem a família pressionando um namoro/casamento com Sandra. Sem mais, a tragédia se anuncia.

Gray, que sempre apostou nesse relacionamento conturbado entre indivíduo e família, dessa vez consegue transpor para a tela um grau de dramaticidade, até então, não alcançado em toda sua carreira. É certo que existe um trabalho exímio na parte sensorial do filme, que conquista o espectador, expele os mais sórdidos venenos da alma humana e, como se não bastasse, brinca (dolorosamente) com as zonas de conforto estabelecidas por nós. A realidade e o alcance dessa mesma síntese do que é real e também do que é sentir emoção a flor da pele (fator quase impecável e encontrado principalmente nas atuações corajosas de Paltrow e Phoenix), são os maiores trunfos da obra. A força que move os personagens é o amor, mas é ele que acaba por destruí-los também. E, sim, tudo isso passa como um furacão por nós, sem deixar vestígios.

Sem mais, a tragédia recomeça.

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