domingo, 10 de julho de 2011

Rir pra não Chorar (Crítica: Queime Depois de Ler / 2008)



Espero que vocês concordem comigo que no Cinema existem vários tipos de comédia: a escrachada, estilo de Ben Stiller e (agora exaltado pela crítica) Judd Apatow, a narrada (que às vezes dá certo) de Woody Allen e a inteligente, sutil, recheada de humor negro e notáveis diálogos que sempre fogem dos lugares-comuns, que tanto assombram esse gênero cinematográfico. Os irmãos americanos Joel e Ethan Coen são o melhor exemplo de como se fazer humor inteligente, carregado de tragédia e estupidez, de vez em quando sendo grotesco e um tanto bizarro. Porém, real.


Os últimos trabalhos dos cineastas consistiram numa fuga das raízes ácidas de seus primeiros e melhores trabalhos (Fargo, 1996 e O Grande Lebowski, 1998). Com Bravura Indômita (2010) refilmagem do clássico de 1969 e Onde os fracos não têm Vez (2007) os irmãos adequaram-se a linha hollywoodiana de produção de filmes. São trabalhos mais densos e complexos. Não é a toa que pelos dois filmes receberam uma chuva de prêmios, inclusive o Oscar de Melhor Filme e Melhor Direção por Onde os Fracos não têm Vez. Isso não quer dizer que o trabalho que os dois sempre fizeram com a comédia não seja de qualidade, muito pelo contrário, eu acredito que é onde estão suas melhores obras. O problema realmente é parte da crítica, que não consegue entender o estilo único que os cineastas têm para fazer rir.

Em meio aos dois últimos trabalhos dos Coen surge uma joia do gênero: Queime Depois de Ler (Burn After Reading, 2008. EUA). Queime Depois de ler deve ser visto como uma obra incrivelmente inusitada. Aqui não tem história, não tem trama, tudo se ergue em volta das personagens que são tão bizarras quanto reais. Os Coen voltam a brincar com os estereótipos do nosso conhecido cotidiano e a humanizá-los na medida em que eles cometem os mais diversos erros.



Queime traz um elenco estelar: Brad Pitt, Frances McDormand, George Clooney, John Malkovich, Tilda Swinton e Richard Jenkins, arrisco a dizer que o mais saboroso dessa comédia é ver esses grandes astros interpretando personagens tão burlescos. Por exemplo, o personagem de Brad Pitt é o cara mais idiota possível, aquele cara que acha que engana todo mundo numa mudança de voz e de atitude, é quase infantil, mas, é mais imbecil.

Linda (Frances McDormand) é uma quarentona que trabalha numa academia de ginástica junto com Chad (Brad Pitt, merecia um Oscar), ele é um bobão, ela uma mulher infeliz com a aparência. Um dia Chad encontra no vestiário da academia um CD com diversas informações da CIA, as quais ele e Linda julgam ser sigilosas. Após descobrirem que o CD pertence a um ex-espião da CIA, Osbourne Cox (John Malkovich, ótimo em todo seu mau-humor), eles resolvem chantageá-lo ou então o CD iria parar na Embaixada russa. Do outro lado, Osbourne é casado com Katie (Tilda Swinton), que mantém um relacionamento extraconjugal com o paranóico Harry (George Clooney), policial que tem orgulho de nunca ter precisado atirar em ninguém durante os vinte anos de profissão. Pronto. Está montado o covil. Não parece, mas todos esses personagens irão se interligar da forma mais inusitada e cômica em função da vida dupla que cada um mantém. Isso tudo é mérito do roteiro magnífico criado também pelos irmãos Coen, já que possibilita a junção de dois núcleos distintos, em que ninguém é protagonista, numa hilariante e sólida comédia de espionagem.



A trilha sonora de suspense é espetacular. Traz músicas que nos remetem a filmes de espionagem mescladas às cenas hilárias que vão passando na tela. Não poderia ser melhor. A comédia de humor negro é a grande marca da carreira dos irmãos e não poderia ser diferente nesse filme. Existem cenas impagáveis como a visita de Chad e Linda à Embaixada Russa, acreditando no poder das informações que eles possuem e até mesmo na misteriosa criação de Harry no porão de sua casa.



Frances McDormand me causa certo receio, acho uma atriz estranha e, talvez por isso, tenho essa resistência. Porém, não posso negar que ela tem talento. Não bastava o Oscar de 1996 de Melhor Atriz por Fargo (Frances é esposa de Joel), a atriz mostra que tem verdadeiro dom para a comédia. Calma. Dom para a comédia dos Coen. Não imagino ela fazendo piadas escatológicas ao lado de Ryan Reynolds em qualquer filme por aí. Em questão de atuação o filme é todo de Pitt e Clooney. A dança do personagem de Pitt causa vergonha alheia, sua imbecilidade pinta nossa cara de vermelho. Tem que ter muita cara de pau. George Clooney vem provando ser o melhor ator de sua geração. Vai do drama a ficção, da comédia a ação, sempre entregando performances de alto nível. Com Conduta de Risco (2007) tornou-se o ator mais rentável do planeta: traz dinheiro e prêmios.

Nunca duvide dos irmãos Coen. Das suas genialidades ao escreverem roteiros até a perfeita formação de ângulos durante as filmagens. Do mais complexo ao mais simples: eles são exímios. Não deixem de ver os outros filmes da dupla, onde será possível ver também a extensa colaboração entre os cineastas e o ator George Clooney.



Queime Depois de Ler não é só comédia.

Existe ali uma suave crítica aos atores sociais. Repare em como os personagens velam infelicidade, angústias, tornando-se, assim, verdadeiros personagens. Personagens dentro de personagens. Isso é característica dos Coen, ali ninguém é realmente feliz. Todos mentem, todos traem, todos omitem. É o verdadeiro reconhecimento de nós mesmos sem perder o bom humor.



Ta aí Pedrodan.. hahaha

Um comentário:

  1. MEU, não tinha visto esse post, achei que tinha esquecido/ignorado meu pedido! hahahah

    enfim, falou tudo o que muita gente precisa ENTENDER sobre os Coen, e falou muito bem. quando vierem criticá-los por simples e pura ignorância, vou sugerir que leiam sua crítica dessa belezinha de filme * *

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