quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Simplesmente Amor (Crítica: A Troca / 2008)

O tamanho da coragem é fruto do amor que você traz no peito, nos olhos e nas mãos.



Quando tentamos entender o valor ou o tamanho de um sentimento quase sempre damos com os burros n’água. Definitivamente não é fácil. Mas, mesmo assim, é comum escutarmos que não existe amor igual ao de uma mãe para um filho. Disso, eu realmente não duvido. Mães que movem montanhas por filhos, mães que percorrem desertos por filhos, mulheres que amargam vidas por uma eterna criança. Não sou e nunca serei capaz de definir isso por mais experiência de vida que eu tenha, muito menos aqui, através de palavras.

O Cinema é cheio dessas histórias de mães que se sacrificam para ver o bem estar de seus filhos. Alguns filmes são muito bem sucedidos, como o sensível O óleo de Lorenzo (1992) e o mais recente Reencontrando a Felicidade (2010). Porém, um drama real sempre nos dá mais base ao que estamos tentando entender e digerir. Esse é o caso de A Troca (Changeling, EUA. 2008), obra do renomado diretor Clint Eastwood que vem contar o desespero de uma mãe atrás de seu filho desaparecido.

Concordo assiduamente que está não é e nem figura entre as melhores obras do conceituado diretor. Vejo em Sobre Meninos e Lobos (2003) e Menina de Ouro (2004) muito mais ousadia, paixão e qualidade, mas, ainda assim, A Troca tem seus méritos e pode, sim, ser considerado um grande filme. Baseado no incrível roteiro de J. Michael Straczynski, Eastwood optou por contar a história dessa mãe que enfrentou os homens e instituições mais poderosas de Los Angeles para reaver seu filho.



Em meados dos anos de 1920, Christine Collins (Angelina Jolie), uma mãe solteira, deixa o filho de 9 anos sozinho em casa para cobrir o turno de uma amiga na empresa de telefonia em que ambas trabalham. Mais tarde, ao chegar em casa, Christine nota o desaparecimento do filho. Tomada pelo desespero e pela angústia, a jovem mãe recorre à polícia de Los Angeles. Logo de cara, a polícia trata o caso com pouca importância, dizem à mãe que ela tem que esperar certo tempo para declarar o filho como desaparecido. Durante esse tempo, Christine procura pelo filho sozinha. Historicamente, nos anos vinte, a polícia de Los Angeles foi conhecida por ser uma das instituições mais corruptas dos Estados Unidos. É claro que essa história não vai terminar bem.

Cinco meses depois do ocorrido e com o desespero de Christine que só crescia, a polícia encontra uma criança a qual eles dizem ser o filho desaparecido da mulher. Na hora em que Christine coloca os olhos na criança ela descobre que aquele menino não é seu filho. Manipulada pela polícia, Christine é obrigada a levar a criança para casa. O chefe da polícia pede para que Christine faça uma experiência, ele não podia ver os pilares que ainda sustentavam toda a polícia da cidade serem carcomidos pela “pretensão” da impetuosa mãe, tanto, que toda a imprensa foi chamada para que fosse registrado o bom trabalho da polícia e o encontro “emocionante” da mãe e do filho. Christine leva o garoto para casa e com a ajuda do reverendo Briegleb (John Malkovich, excelente) da professora de seu filho, Christine vai até a imprensa delatar a ilegitimidade e corrupção da polícia de Los Angeles. A mãe não suporta ver a polícia parada, enquanto seu filho ainda está desaparecido.



Como forma de se defender, a polícia acusa Christine de insanidade mental. A mãe agora está presa num sanatório e não pode fazer nada para encontrar seu filho.

É curioso que no sanatório a única pessoa que ajuda Christine é uma prostituta, e ela que está do lado certo. Na conservadora sociedade americana do começo do século vinte quem vai ajudar a mãe na sua jornada são os atores sociais menos prováveis. Tudo parece se voltar contra Christine, tudo impede que a mãe finalmente encontre seu filho. Tudo por ignorância de uma sociedade que viu no desespero apenas um exemplo de loucura e não de amor que não cabe em apenas um ser humano. Tudo por elevação de uma instituição que ruiria com o menor vento que soprasse em sua direção.

A figura da mãe solteira em meio aqueles tantos homens de ternos, chapéus e fumando charutos causa muita comoção. Amparada na presença e expressão marcante de Angelina Jolie, Christine surge como uma andorinha em meio a centenas de gatos que só querem come-la, tirar a mulher do caminho e, assim, preservar o que é mais importante: o poder inquestionável.



Angelina Jolie, que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz pela personagem, consegue transmitir todos os sentimentos dessa mãe: desespero, aflição, coragem, que ainda são somados a feminilidade e sensibilidade da mulher da época. Perdeu o prêmio para Kate Winslet, concordaremos num certo ponto: era uma tarefa difícil vencer a nazista analfabeta da atriz inglesa. Seu rosto é puro canal de dramaticidade e é ela, só a mãe, que consegue transmitir esperança para o espectador. Personagem e atriz dão um show de altíssimo nível.

A fotografia somada a belíssima reconstituição da época também são um deleite para os nossos olhos. A iluminação que hora foca em rostos dispersos, hora em metade de rostos e que por tantas vezes esconde os olhos de Jolie na penumbra de seu chapéu é usada com maestria por todos os profissionais, rendendo a todos nós uma aula espetacular de composição, luz, ambiente e direção de arte.

Christine é figura do que foi uma mulher em busca de justiça e movida por um amor que transcende qualquer outro tipo de relação. Uma cidadã que fez jus ao que é ter direitos e deveres a se cumprir. Buscou forças dentro do seu coração para fazer parar de funcionar a instituição mais forte da época, permitindo que mais nenhuma mãe passasse por tudo o que ela passou. O egoísmo do qual foi vítima foi pago por ela mesma com uma dose imensa de solidariedade e bondade. Às mães de todo o mundo minha profunda e incansável reverência.



Feliz Aniversário Mãe

2 comentários:

  1. Ah, Guzinho!!

    Chorei pra caralho lendo isso.

    Tudo de mais bonito pra sua mãe linda!

    Um beijo!

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  2. Ah, Guzinho! Que coisa mais linda! Adorei!

    E tudo de melhor pra sua mamis! :D

    Beijão

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