domingo, 13 de novembro de 2011

Desconstruindo o Amor e seus Dias ( Crítica: 500 Dias com Ela / 2009)

Um cara conhece uma garota.
Ele se apaixona.
Ela não.




Não dá pra esquecer a fórmula plastificada que é fazer filme do gênero comédia romântica. Simplesmente, não tem como. É sempre a mesma historinha, um cara que conhece uma garota, os dois passam pelas mais incríveis adversidades, pra que no final, eles fiquem juntos e felizes para sempre. Alguns atores já estão extremamente marcados pelo gênero em questão, como é o caso do bombado Matthew McConaughey, a artificial Jennifer Aniston e em proporção menor (graças a um investimento dramático) a oscarizada Sandra Bullock.

Nos EUA, a fórmula do gênero é conhecida como “Boys meets girl”, que se refere exatamente a essa solidificação que acontece dentro dessa tentativa de comédia e tentativa de romance. No final, acaba ficando uma história um tanto absurda, que foge do romance e cai numa comédia escrachada. Porém, não posso fingir que eu não sei que essas histórias sem sal nem açúcar, agradam grande parte do público.



Então, surge um cara desconhecido, diretor de videoclipes, disposto a dar um novo alento as comédias românticas. Sim, ele tem nome e sobrenome: Marc Webb. Pouquíssimo conhecido no cenário hollywoodiano, Webb se dispôs a contar uma história que fosse romântica e engraçada, mas que também se apoiasse em alguns pilares essenciais para dar humanidade e verossimilhança ao gênero tão pouco inovador. Com um ar de cinema independente, surge o fantástico 500 Dias com Ela (500 Days Of Summer. EUA, 2009).

Da mesma forma, que a estrutura técnica do filme se apoiava em nomes desconhecidos, Webb seguiu a mesma linha na hora de montar seu elenco, e não pense você que isso pode ter afetado a qualidade do produto, muito pelo contrário, seria mentira minha se eu dissesse que não culminou na verdadeira quase obra-prima. Alguns podem ficar fervorosos e inconformados com minha entrega e aceitação desse filme. Em comparação com grandes clássicos ou até mesmo bons filmes, ele pode passar despercebido. Mas, o que mais me chama a atenção, é justamente a possibilidade de recriar um gênero totalmente fadado a uma fórmula convencional.



500 Dias com Ela, logo de cara, vai mostrar vários acertos, que por mais que sejam bobinhos, fazem total diferença. Primeiro ponto: a narração inicial da obra, que instantaneamente alerta o espectador a uma história que pode incomodar. Segundo: a contagem dos dias somado a arte visual do tempo, que significa o quanto aquele dia foi bom ou não. E terceiro: a narração não-linear, o diretor não se vê obrigado a contar os passos das personagens seguindo uma lógica cronológica (soa estranho), ele vai e volta no tempo com muita habilidade. Essas características por si só já tornam a trama mais complexa, diferente de uma comédia romântica no “talo”.

No mais, a história inicial segue um pouco da receita, Tom (Joseph Gordon Levitt) é um cara pouco satisfeito com seu emprego de confeccionar cartões de congratulação, amargurado e que busca, e principalmente, acredita no amor. Sua vida muda quando Summer (Zooey Deschanel e também o trocadilho para o título original) começa a trabalhar na mesma empresa. Logo ela se torna sua ambição amorosa. Summer não acredita no amor, prefere ter relações curtas e pouco sérias. Com o cenário montado, o filme vai contar exatamente os 500 dias em que Tom viverá em função de Summer.

No decorrer da narrativa, Tom se vê cada dia mais apaixonado por Summer, enquanto ela se mantém, na maioria das vezes, fria e independente. Pode-se ver um pouco da tradição que Webb traz dos videoclipes. Numa das cenas, o personagem de Gordon-Levitt canta e dança na rua, após a primeira noite de amor com Summer.



A trama é recheada de bons momentos, como a cena (a melhor) em que o casal assiste a Primeira Noite de um Homem no cinema, e reagem de formas distintas ao término do filme, um aos prantos e o outro aos risos. Também temos a cena em que a tela é dividida e de cada lado é mostrado as visões diferentes do mesmo personagem: a idealização e a realidade, o que ele esperava e o que realmente aconteceu. É um trabalho magnífico de composição e ideias tão inovadoras para o romance contemporâneo.

A força da obra está na química entre os dois atores. Parece que um foi feito para o outro. Gordon Levitt, que se destacou em A Origem (2010), consegue dar todo o ar juvenil e apaixonado a Tom sem cair em nenhum tipo de exagero. Zooey Deschanel, que está linda e parecidíssima com a cantora Katy Perry, é um estouro. É quase impossível não se apaixonar por ela também. Os dois atores conseguem fazer com que o público se identifique de A a Z com a história e com as personas.



O trabalho também está apoiado numa fotografia que esbanja alegria e cores, diálogos pertinentes, olhares difusos e trilha sonora especialmente encantadora: tem Carla Bruni, Pixies, She and Him (da protagonista do filme), entre outros nomes de peso. A obra também tem intensas referências a grandes filmes da história do cinema, às vezes nos remete a Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004) e fica clara a inspiração no clássico de Woody Allen de 1977, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa.



Daí o filme termina e você se vê de boca aberta diante dos créditos finais. O filme não finda tão bem, não vai de acordo com nenhuma de nossas expectativas, é cada um para o seu lado e cada qual com seu carma (se houver). Você não sabe se chora ou se sorri, mas tem certeza do deleite que foi poder apreciar cada minuto da obra.

2 comentários:

  1. também acho a cena do final de a primeira noite de um homem a melhor. traduz muuiiittooo bem o que a summer tava sentindo na hora. uma coisa meio assim... a gente se ama, fugimos, entramos no ônibus... e agora? algo como quando a gente acha que tá apaixonado e parece que termina por ali. num sei, foi isso que eu achei que ela sentiu. e não teve cena melhor pra explicar.

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  2. Vc conseguiu o impossível, fez com eu me apaixonasse ainda mais ainda por 500 Days of Summer. Excelente texto, parece que vc lê meus pensamentos. É muito amor por essa história, adoro filmes com finais não previsíveis, esse é um dos motivos de eu ter assistido tantas e tantas vezes.

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