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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A Bela da Tarde (Crítica: Bonequinha de Luxo / 1961)

Você não pode amar um selvagem, ele anseia pelo céu e, uma hora ou outra, te deixa.



Faltava um filme dela.

No ano em que Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s. EUA, 1961) comemora cinquenta anos, realmente não podia ficar faltando uma singela homenagem no Cinemática. Clássico dos clássicos, Bonequinha de Luxo figura entre os melhores filmes da década de 1960 e, sem dúvida, pode ser considerado o grande papel da carreira da belíssima Audrey Hepburn. Sim, na verdade, não foi por esse filme que Audrey conseguiu seu Oscar, ele veio bem antes com A Princesa e o Plebeu (1953), quando a atriz ainda engatinhava no mundo do Cinema. Mas, é com essa ode a mulher, que Audrey consegue mostrar tudo que é capaz de fazer: atuar com exímia qualidade, cantar, comover e fazer rir.

Para quem não sabe, inicialmente, o filme seria estrelado pela dama da década de 1960, Marilyn Monroe, que quando substituída por Audrey acabou criando-se uma inimizade pouco comentada entre as duas atrizes. A direção ficou por conta de Blake Edwards, mestre de comédias que beiram o tipo pastelão, mas que, mesmo assim, conseguem se configurar em ótimos filmes. Acredito que, além de Audrey, o grande mérito de Bonequinha de Luxo fica nas mãos de Edwards, que conseguiu transformar uma comédia romântica que tinha tudo pra ser fútil e piegas, numa verdadeira poesia que libera contornos de encantamento e inocência no mundo de uma bela mulher.

A história do filme é do célebre Truman Capote (que também já possui um ótimo filme biográfico). A obra de Capote é considerada um marco na literatura americana, assim como o filme se tornou um símbolo do cinema das terras de lá. Embora, Capote não tenha gostado da adaptação feita de sua obra, devido às grandes mudanças envolvendo o roteiro, o filme agradou em cheio tanto o público quanto a crítica especializada. Marilyn também havia sido cortada justamente por quererem transformar o filme numa coisa mais próxima a água e açúcar. Não quero nem pensar o que seria desse filme sem Audrey.



Audrey Hepburn
vai emprestar toda a sua elegância para Holly Golightly, uma jovem e linda mulher que vive em Nova York e espera num marido rico a grande chance de virar sua vida. Embora a personagem tenha sido bastante suavizada, pois no original ela continha traços de bissexualidade e promiscuidade (a realidade crua de Capote), a personagem do filme ainda se manteve como uma garota de programa, no caso, de luxo. Enquanto Holly impera no seu mundo sonhador, Paul Varjak (George Peppard) se muda para o apartamento do lado e logo os dois iniciam uma amizade. Ele é um escritor meio preguiçoso, sustentado por mulheres que o tem em troca, enquanto, Holly se mantém em sua saga.

O título do filme que traduzido literalmente seria algo como “Café da manhã na Tiffany’s” refere-se a grandiosa marca de jóias Tiffany’s, que é o lugar em que a personagem de Audrey procura esquecer dos problemas. Por mais que isso soe fútil, devemos tentar entender o mundo repleto de sonhos e inocência que rodeava Holly. Quando a amizade entre Holly e Paul (“Fred”) começa a se tornar mais intensa, tornando-se amor mútuo, a jovem se vê de frente com os seus próprios conceitos. Como ela abriria mão de sua liberdade por um amor? Ela iria agora viver dentro de uma gaiola novamente? Estaria, então, fadada a uma vida sem graça, repleta de amor, amor e amor?



A metáfora do nome do gato se constitui numa das mais belas jogadas do texto de Capote. Holly simplesmente chama o gato de “gato”. Segundo ela, o gato é como ela: não sabe quem é, não sabe qual sua função dentro do mundo, resta a ela viver de acordo com seus preceitos, assim como o gato. A história de amor entre Holly e Paul não é tão incomum. Paul é a válvula motorizada que vai impulsionar Holly a acreditar nessas coisas simples da vida. Holly ainda que tentada a vencer na vida, só se entrega a ele nos últimos três minutos de filme. Aliás a cena final é angustiante, desde as falas ao choro compulsivo e (acredite se quiser) contido de Holly.

Com um tema ainda que vanguardista: a mulher que quer casar por dinheiro e se tornar visível à custa do mesmo, a personagem tem suas aspirações. Holly não que ser uma dona de casa e viver em função do marido, em pleno ano de 1961 já é possível ver uma mulher em busca de sua autonomia sentimental, de sua existência em função de seus gostos e suas vontades. A cena em que você vê o tamanho grau de complexidade da personagem é muito doce. Sentada na sua janela com seu violão, Holly canta a belíssima “Moon River”, tomada pelo seu ar sonhador, pela sua beleza estonteante e pelo rapaz que espia a jovem com encantamento. Holly não é prendada aos afazeres domésticos, o apartamento vive virado de pernas para o ar, mas isso não impede a feminilidade da personagem,que é, talvez, a característica mais forte da personagem.



Se eu pudesse definir Hepburn em apenas uma palavra seria beleza. Não só a beleza física, mas a beleza da voz, a beleza da menina sapeca que pula de um sofá pro outro, que senta dentro da pia, a beleza da mulher em seu “pretinho básico”, a beleza de seus passos e a beleza de seu choro. Sem dúvida nenhuma, esse é o papel que transformou Audrey no mito que ela é hoje. É a consagração de uma atriz já consagrada. Audrey foi indicada ao Oscar pelo papel, mas perdeu pra Julie Andrews.



Bonequinha de Luxo não tem nada de muito surpreendente, o final é previsível (mesmo que se configure numa linda cena), alguns personagens são dispensáveis (como o vizinho oriental que aparece em mais cenas do que realmente é necessário). Mas, ainda assim, o filme é quase que impecável, irretocável, e tendo passado cinquenta anos, ele continua sendo obrigatório pra qualquer fã de cinema. Audrey falando em português gera tanto carinho pela atriz, que é impossível colocar em palavras. Aliás, eu só não perdoo Edwards e Capote, por não terem trazido Audrey para o Brasil, literalmente.

A classe e o charme dessa obra está definitivamente marcada na história de quem o assiste.