segunda-feira, 23 de maio de 2011

Não assistirás ao fim que tu causaste. (Crítica: Carrie - A Estranha / 1976)

Restabelecer o que nunca foi estabelecido.

Reaprender o que nunca foi aprendido.

Sussurrar o que nunca foi dito.

Quem é você no mundo? Isso, aquilo ou nada disso?

Quem segue do teu lado?

Quem você sente do teu lado? (e isso se resume num infinito superior a qualquer um milhão de palavras que possam te dizer).

Pena que ninguém disse nada a ela. Só fez com que ela sentisse que tudo era mentira e perverso.

Morre assim, então.



O que um filme de terror pode fazer num indivíduo? A mim pode subverter toda a ideia do que ele é e me mostrar o que REALMENTE ele é. E é isso o que ocorre em Carrie – A Estranha (Carrie, 1976. EUA). O filme que foi adaptado do livro de Stephen King tem em sua essência pura o horror, a vingança e o sangue, mas trata-se de um mundo a mais de coisas.

Carrie foi o primeiro livro escrito por Stephen King e quase não foi publicado devido a um surto do autor, que jogou todo o material no lixo, por sorte sua esposa resgatou o trabalho e então o livro foi publicado em 1974. Este também foi o primeiro livro do autor que ganhou uma adaptação cinematográfica.



Em 1975, o diretor Brian de Palma (início da carreira) resolveu adaptar o livro de King para o cinema. Tinha em mente seguir todo o livro de forma fiel, assim o filme seria só o meio visual de se entender o livro. Porém, Brian de Palma fez muito mais que isso, fez simplesmente um clássico do cinema mundial. Transformou uma história repleta de clichês num dos filmes mais vistos e comentados da história. Quem nunca ouviu falar de Carrie? Carrie sempre é relembrado quando o” bullying” entra nas discussões sociais e novelas brasileiras fazem, até hoje, cenas aludindo à obra.

Contar Carrie é como contar a história de milhões de pessoas do mundo, é comum encontrar gente que sofra que nem ela (mesmo sem os agravantes que essa jovem tem).

Carrie é uma jovem do ensino médio que nunca foi aceita por nenhum grupo ou indivíduo da sua escola, acredito que até da cidade. É aquela menina que ninguém passa a bola na educação física, que é tratada como um móvel dentro da sala de aula e sofre tudo isso calada. Não tem estrutura nenhuma pra se impor diante dessas pessoas e dessas situações. Todos os problemas de Carrie são agravados pela mãe (Piper Laurie, que faz uma mãe de arrepiar até o último fio de cabelo), uma fanática religiosa, que foi abandonada pelo marido e nunca aceitou Carrie como sendo fruto de um casamento, mas tem como certo que a filha é fruto do pecado, da entrada do demônio no seu corpo. Pra completar, Carrie tem poderes psíquicos que ela não consegue controlar em momentos de extrema fúria, a mãe tem consciência dos poderes e acredita que a filha é dominada pelos poderes do mal.



Na minha humilde opinião, a mãe é o maior problema na vida de Carrie. A jovem é mantida isolada do mundo, isolada das pessoas e ainda bombardeada por questões que vão além de seu poder de resolução. A mãe nunca contou à filha que uma menina menstruava (essa cena é de cortar o coração), tanto é que quando menstrua, Carrie acredita que está morrendo. As meninas da escola também são cruéis e perversas, são aquelas pessoas que matam outras indiretamente nos dias de hoje. Matam sonhos e planos. Sufocam o que um dia poderia ser uma linda vida a ser vivida.



Sissy Spacek (indicada ao Oscar de Melhor Atriz pelo filme) está em seu primeiro trabalho no cinema, e faz Carrie da forma mais brilhante possível. Amedronta-me no olhar, entristece-me nos mesmos olhos e me ganha, ainda, com esses mesmos olhos. Os Olhos. Ah os olhos!! Os olhos de Sissy Spacek merecem uma poesia.

Preferia mil vezes que o filme fosse de terror mesmo, pelo menos blindaria minha alma e meu coração contra o sofrimento de Carrie. Não é brincadeira o que essa menina sofre e o que tanta gente ainda sofre calada nos dias de hoje. Numa das últimas sequências do filme (talvez a penúltima, a do baile), toda essa blindagem que você tiver usando, caso ainda esteja, cairá por terra. Não tem como não querer pegar Carrie no colo e dar a ela todo o carinho que lhe negaram durante uma vida inteira. Toda a amizade que lhe privaram.



Os poderes paranormais que foram impressos na personagem é, de fato, só uma desculpa para o filme ser de terror. O filme é muito mais que isso. É uma abordagem repleta de lugares-comuns da vida de uma jovem que sofre bullying. Quer coisa mais natural que isso? Quem nunca viu um colega praticar bullying e deu uma gargalhada gostosa da cara daquele cidadão que estava sendo rechaçado na frente de todo mundo?

Mas isso é um blog de Cinema, desculpem-me.

A obra também merece ser lembrada por uma série de questões: a montagem, que é magnífica e trás uma série de cenas muito bem construídas, com ângulos diferenciados, com divisão da tela pra mostrar causa e efeito da cena; a fotografia, assustadoramente linda do instante em que Carrie toma um banho de sangue em diante e; trilha sonora, que lembra um pouco Psicose e dá todo um clima muito legal ao filme.

No geral. Carrie não tem segredos, trata-se de uma obra única que consegue ser de 25 anos atrás e mesmo assim tratar de um assunto tão contemporâneo. O final é um espetáculo a parte, que não merece que eu diga uma palavra sequer, afinal, posso fazer alguma injustiça.



Dedico o post aos amigos que assistiram ao filme comigo: Pedro Inácio, Stephanne, Léo (que dormiu o filme inteiro), End (que riu boa parte do filme), Adriano (dono do filme) e Ian.

(ahh.. não assistam a refilmagem, é uma merda!!)

11 comentários:

  1. Muuuito bom, muito bom, gustavo! Deu até um remorso de ter dormido. Vou pegar com o Adriano depois!!

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  2. muuuuito bom, guzinho s2
    realmente, disse tudo que podia e devia sobre o filme! suas resenhas estão cada vez melhores!
    beijo

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  3. Aiii seu lindo! :)


    O dia foi ótimo, o filme também e sua resenha melhor ainda! (curtiu minha frase de 5ª série?).

    Um beijão e... posta maaaaaaaaais *.*

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  4. Linda resenha GUS! muito bem escrita... gostei demais... e o dia também! obrigado por lembra-me \o/ muito bom!
    Faz uma da concepção! xDDD
    abraço gus.

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  5. hhahahahaah.. Concepção vai ser foda!!! vou fazer essa crítica nu.

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  6. Muito bom Gustavo!
    Ótima análise!
    Gostei de sua visão e principalmente de você ter captado a essência por trás do terror!

    Obrigado por lembrar do 'dono do filme'! Foi só o primeiro de muitos! =D

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  7. Talvez cada um de nós já se sentiu um pouco Carrie na vida né..

    A cada parte da leitura, os sentimentos de terror e aversão a tanta coisa triste aparecem muito fortes e dão até nervoso.

    Parabéns pela crítica Gustavo.

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  8. Parabéns Gu!!! Adorei o seu olhar crítico do filme, muito bom mesmo...Vem logo, estou com saudades... Bjks

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  9. bom, mas o remake de 2002 foi mais fiél ao livro, então ele supera esse concerteza

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  10. Olha sinceramente eu estava começando a gostar desse post, mas quando eu li até a parte em que você disse para não assistirem a refilmagem (Carrie 2002), eu me decepcionei, com todo respeito eu peço que você tenha mais respeito com os filmes favoritos dos outros, pois existem pessoas que gostam desse remake e não tem o direito de influênciar outras pessoas não assistirem, então retirem a frase ''(ahh.. não assistam a refilmagem, é uma merda!!)'' por favor porque não acho justo xingarem alguma coisa sem conhecê-la primeiro.

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  11. Ao mesmo tempo que esse é o meu filme preferido de "terror" eu evito assistir com muita frequência porque na primeira vez que assisti,fiquei tão chocada e comovida com o sofrimento de Carrie que chorei junto com ela e não consegui dormir direito só pensando em tudo que ela passou.
    Amei esse filme!
    Me senti mais triste do que assustada...
    Stephen King é um gênio e acredito que essa é a melhor obra dele.
    Sissy Spacek é um atriz brilhante,soube interpretar muito bem a personagem,digamos que ela "incorporou" Carrie mesmo,soube encantar fazendo aquela cara de medo,aquela cara de quietinha para interpretar a Carrie no dia a dia e também na cena no baile em que ela fica totalmente paralisada (até tive um pouco de medo nessa hora rs...).
    Sem dúvida,o clássico dos anos 70 é o melhor de todos,com riqueza de detalhes e ótimos atores.Assisti também os dois remakes,o de 2002 e o de 2013.O de 2002 foge um pouco da história do primeiro filme,então confesso que não gostei muito,só tirando a parte que a Carrie não morre.O de 2013 é igual ao clássico,mas acho que não ficou tão bom porque é mais dos dias atuais e também porque Chloe Grace Moretz não ficou tão "aterrorizante" quanto a Sissy na cena do baile,apesar de eu gostar muito da Chloe eu acho que ela não captou "tão bem" quanto Sissy.
    Só posso dizer que esse filme é nota 10 e gostei muito do post!

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