terça-feira, 31 de maio de 2011

A Marcha de la Tyrannie (Crítica: V de Vingança / 2006)



O povo não deve temer seus governantes. Os governantes que deveriam temer o povo.

Já é mais do que escancarada minha paixão pela atriz Natalie Portman, dentre os poucos posts do Cinemática Br, esse já é o terceiro que traz a atriz israelense. Não escolhi esse filme simplesmente por trazer Portman. Escolhi porque se trata de uma obra espetacular, visionária (ou nostálgica, aí depende do seu ponto de vista) e completa, embora cometa alguns exageros em certas partes.

V de Vingança (V for Vendetta, 2006. EUA) é baseado nos quadrinhos de Alan Moore e David Lloyd, que foram publicados na Inglaterra durante a década de 1980 e no livro 1984 de George Orwell, escrito em 1948. Podemos dizer que tudo é adaptado de uma adaptação. É complicada essa história de adaptar quadrinhos para o Cinema, justamente porque os leitores de quadrinhos são aqueles mais fervorosos e “nerds” (com o perdão da palavra) possíveis. Eles querem ver uma adaptação fiel ao extremo, coisa que sabemos que não é possível, não tem como mesmo (imagine um filme sem sentido com 6 ou 7 horas de duração, definitivamente não rola) e quando essa fidelidade não se torna real eles se rebelam, organizam-se na frente da produtora e aí é aquele inferno. Basta entender que cinema não é igual a nada, nem a TV ou teatro, e muito menos a Literatura. No caso de V de Vingança, em que o autor dos quadrinhos Alan Moore se recusou a ter seu nome nos créditos finais, devido a essa “falta de fidelidade”, a história é muito melhor que os quadrinhos, já que prefere um roteiro bem mais simplificado que o original.



O diretor James McTeigue (que até então só tinha se aventurado em co-direções) e os Irmãos Wachowski (trilogia Matrix – e que assinaram o roteiro de V de Vingança) optaram por uma direção e um roteiro mais simples, mais deficiente de personagens, em que tudo o que fosse apresentado na tela, seria profundamente desvendado. Assim, não encontraríamos tantos personagens rasos durante a película. Porém, o espírito libertário (que é o que torna o trabalho fiel aos quadrinhos de Alan Moore) é mantido e, ainda, revigorado.

Alan Moore escreveu os quadrinhos na época em que Magaret Tchatcher comandava a Inglaterra. Moore profetizou que o domínio rude de Tchatcher (ela tinha o apelido de “mão de ferro”) fosse levar a Inglaterra a um regime totalitário, quase que uma Alemanha nazista, em que homossexuais e negros seriam presos e proibidos de se misturar a uma chamada “raça pura”, todos os direitos humanos contestados e, assim, em nome da moral e dos bons costumes o mundo seria mais uma vez condenado. O que Moore não previu é que o conservadorismo inglês cairia com a eleição de Tony Blair ao posto de primeiro-ministro britânico. Mas, em algumas coisas ele acertou (HÁHÁ, espaço para minha risada macabra): o modo de agir de alguns terroristas, quando insatisfeitos com a forma de governo que rege seu país (ou sistema), e, assim, para mandar um recado para esses governantes, atacam símbolos de poder daquela pátria (no caso do filme é o Parlamento que explode, e se você pensou no Pentágono ou no World Trade Center, como forma de aludir ao mundo real, parabéns). E é por isso que a história de Moore é tão pertinente ao Cinema e à reflexão da sociedade



V de Vingança tem um pouco de tudo- romance, crítica social, política, suspense, ação, aventura – e tudo extremamente bem dosado. Alguns exageros se deverão, mais para o final do filme, aos efeitos especiais, mas mesmo assim, não comprometem tanto o filme.

Tentando resumir um pouco a história do filme, a trama se passa num futuro próximo, em que a Inglaterra tenta se reerguer novamente como uma potência global. Porém, o governo inglês é absolutista e corrupto. O líder do Parlamento Inglês (interpretado pelo veterano John Hurt) é conhecido como Chanceler, cargo que ocupava o nada saudoso Adolf Hitler, as cores que representam o governo também aludem ao Nazismo (preto e vermelho). Os meios de comunicação são dominados pelo Estado, a liberdade de expressão totalmente vetada, enfim, características de uma ditadura. Nesse contexto, aparece a figura de V (Hugo Weaving, o vilão de Matriz, que nem por um segundo enfrenta as câmeras sem máscara), uma espécie se super-heroi mascarado, determinado em eliminar esse regime fascista que domina a Inglaterra. É um heroi dos mais estranhos, culto e sensível e contará com a ajuda de Evey (a musa Natalie Portman), uma funcionária da televisão inglesa, com um amargo passado, e que foi salva por V das mãos dos policiais tiranos. Evey será a parceira na empreitada de V: explodir o prédio do Parlamento britânico.



Destruir um prédio fará desse mundo um lugar melhor? Perguntou Evey

V, imóvel, respondeu: Um prédio é um símbolo. Destruí-lo também.


É nítida a referência que os Irmãos Wachowski fazem ao 11 de setembro. Data que Osama Bin Laden ordenou os ataques terroristas ao país mais poderoso do mundo. O filme é cheio dessas referências. Mas cabe a você julgá-las. Osama Bin Laden comparado a V. Dois terroristas ou dois militantes em defesa da liberdade? Atos terroristas são constantemente atribuídos a defesa da liberdade. Isso é válido? Só estando na pele de um ser massacrado pelo sistema pra ter uma resposta concreta.

James McTeigue nem parece ser um estreante. Parece um veterano de guerra. Imprime agilidade e profundidade absurdas ao filme, é difícil se entregar a vontade de ir ao banheiro no meio do filme. Não dá vontade de tirar o olho. Hugo Weaving que tem que interpretar o personagem principal só a base de expressões corporais dá um show a parte. Natalie Portman se supera mais uma vez ao interpretar essa militante de garra, que sofre demais devido ao passado obscuro da personagem (a atriz raspou a cabeça em dado momento do filme). Vale ressaltar também o trabalho dos outros atores: Stephen Rea e Stephen Fry. A fotografia e a maquiagem do filme impõem um tom muito sombrio aos cenários, dá pra ver o medo pairando sobre Londres.



Taxado por uns como “subversivo”, V de Vingança é um filme, acima de tudo, inteligente. Não há como fugir da verve política mesmo, mas encontraremos dentro de nós mesmos um pedacinho do V, que luta contra essas injustiças que perduram na sociedade. Atente também para a cena da Marcha do Vs, é de arrepiar até o último fio de cabelo.

3 comentários:

  1. foi uma ótima escolha de filme, Guzinho! me apaixonei por ele logo na primeira vez que o vi, lembro que foi um professor de história que passou pra gente no 1º ano... enfim, ótima resenha! parabéns! adorei =)
    beijo

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