sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ventos da Liberdade (Crítica: Na Natureza Selvagem / 2008)




A felicidade só é verdadeira se for compartilhada.
(Christopher McCandless)

Sean Penn é para mim um dos melhores atores ainda em exercício na profissão. Entende do que faz, e além de tudo, trilha caminhos complexos e improváveis dentro da carreira. É com todo esse mérito que esse cara resolveu navegar por águas diferentes, tortuosas e, assim, mostrar também seu enorme talento como diretor e roteirista.

Dos poucos filmes que dirigiu, sem dúvida, Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 2008. EUA) é o que mais se destaca. Não é um filme fácil de resenhar, nem mesmo de discutir numa roda de amigos, mesmo que bêbados. A história pode ser simples, mas tudo o que acarreta e todas as motivações dela são incertas, confusas e podem gerar atrito de opiniões. Por mais que você não concorde com os motivos, não há como discordar da beleza dessa obra.



Na Natureza Selvagem é adaptado do livro de Jon Krakauer (recebe o mesmo título), que conta a história de Chris McCandless, um jovem de 22 anos, que após a faculdade larga tudo para viver uma aventura pelos Estados Unidos. Talvez a palavra “aventura” não caia bem ao que o filme propõe, mas no fim é isso: uma aventura, tanto exterior quanto interior.

McCandless fazia parte simplesmente da nata norte-americana. Vem de família rica, sempre estudou nos melhores colégios e tinha acabado de se formar na faculdade, ou seja, ele estava com a vida encaminhada. Mas estava faltando alguma coisa. Chris larga tudo (reprovado pelos pais) e resolve atravessar boa parte do país para tentar viver durante um tempo no Alasca, o lugar que ele supunha ser o mais selvagem de todos, onde a natureza exalaria sua essência mais pura. Com apenas uma mochila, alguns pertences e pouco dinheiro o jovem parte com destino à sua “aventura”.

Durante sua jornada de dois anos, Chris liberta-se da sua própria identidade e assume um novo nome: Alexander Supertramp, que ele vai deixando marcado, entalhado por todo lugar que passa. Ele queria ser parte daquela natureza. Ele queria esquecer o que ele foi.




30% da beleza do filme está na história e nas atuações de seus coadjuvantes, as pessoas que Alex (agora o chamarei pelos dois nomes) vai conhecendo durante o trajeto até o Alasca. Seja o casal de hippies que lhe deu carona, onde ele estabelece com a personagem de Catherine Keener uma relação de cumplicidade que até então ele nunca havia conseguido estabelecer com seus pais. Ou o picareta vivido pelo comediante Vince Vaughn (extremamente carismático). Em todos seus encontros, Alex terá suas conclusões e definições sobre o que são relações humanas contestadas. Cada encontro é uma nova aquisição, tanto para ele quanto para quem ele encontra no caminho.



Aqui entram os motivos pelos quais Alex resolveu deixar sua casa. Alex está cansado de todo o consumismo que o cerca, da sociedade pós-moderna e suas futilidades e crenças e desacreditado do potencial humano em amar e preservar, sejam sentimentos ou até mesmo a natureza, que é onde ele vai buscar respostas (ou talvez fugir delas), para tentar viver em harmonia com o mundo, com os animais e consigo mesmo. Pode-se dizer que a viagem de Supertramp trata-se de uma auto-descoberta. Supertramp é daqueles caras que os olhos se enchem de lágrima ao ver uma lebre buscando comida, ou cavalos correndo sem rumo. É um amante do sentimento, da vida. É um idealista. Um subversivo da ordem vigente, mesmo que tímido.

O coadjuvante mais estarrecedor é com certeza o veterano Hal Holbrook, que interpreta um veterano de guerra solitário e que praticamente desistiu de viver e através da figura de Supertramp vai conhecer um novo lado da vida: aquele que não existe limitações. É sublime a cena em que o senhor de mais de 80 anos escala uma montanha diante das provocações do jovem Alex já no topo do morro. O filme ainda traz a beleza juvenil de Kristen Stewart, que se apaixona pelo espírito aventureiro do jovem McCandless, e Marcia Gay-Harden e William Hurt, interpretando os pais de McCandless, que são pura emoção.



Os outros 30% se devem ao fato simples (na verdade, nem um pouco simples) do ator Emile Hirsh, intérprete do protagonista, mergulhar no papel e fazê-lo de forma tão visceral e verdadeira. No final da obra, o ator está tão magro, que chega a ser assustador. É fantástico ver tamanha entrega. Foi sim, uma grata surpresa.

10% fica para fotografia da obra, que se destaca muito ao colocar o protagonista em proporções naturais em meio a natureza. Sean Penn quis inserir nas filmagens todos os cartões postais do desconhecido Alasca. As imagens vão de montanhas congeladas e florestas temperadas até desertos.

Os 30% restantes tenho que oferecer a sublime trilha sonora folk do filme. Composta por Eddie Vedder, líder da banda Pearl Jam, a trilha é talvez o melhor do filme, pois ela embala cada momento de solidão do protagonista com tanta precisão que chega a arrepiar. É genial e essencial para o entendimento do personagem.

A estrutura narrativa do filme também é sensacional. O filme é cortado por narrações da irmã de McCandless (Jena Malone), que é o que dá base para voltar no passado do protagonista, junto com isso vem a divisão da obra em capítulos: como por exemplo quando Chris decidi dar início a sua aventura, o capítulo é “Nascimento”, e quando chega ao auge de sua aventura chama-se “Sabedoria”, já como Supertramp. O diretor alterna flashbacks da vida do protagonista com cenas da aventura no Alasca (onde estão as melhores cenas de Hirsh, principalmente dentro do "ônibus mágico") promovendo um verdadeiro show de técnicas cinematográficas.



Esse é Christopher McCandless, um cara que realmente existiu e que não conseguia viver no meio de regras impostas, numa família infeliz e hipócrita. E o mérito do filme é esse, conseguir mostrar que o protagonista vai além de um mero maluco anti-social, e isso se dá graças às relações que o protagonista foi criando ao longo de sua jornada, dando profundidade ao personagem.

O filme apresenta uma história verídica, comovente e que gera muita reflexão sobre o quanto podemos levar uma vida insignificante se não soubermos como vivê-la. Muitos enxergam Chris McCandless como um herói, mas é irônico que um herói tenha que ter um fim tão trágico principalmente por se tratar de um jovem que seguia seus princípios morais e tinha uma paixão imensurável pela vida.

E Chris só estava em busca dele mesmo.

6 comentários:

  1. Lindo filme, ótimo texto!

    Adoro suas resenhas, belezinha :)))


    beeeeijos

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  2. vlw end,, essa foi difícil de fazer, ainda to achando um pouco confusa. mas.....

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  3. Uma historia quaze perfeita, só não foi por causa de sua morte sofrida onde ele mesmo relata em uma de suas entradas em seu diario!!

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  4. maravilhoso amei sem palavras, mais poderia ter sobrevivido <3

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  5. maravilhoso amei sem palavras, mais poderia ter sobrevivido <3

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