segunda-feira, 13 de junho de 2011
Morte ao Rei (Crítica: Maria Antonieta / 2006)
É sempre muito complicado quando um diretor resolve adaptar a vida de uma figura histórica para as telas de cinema. As visões, as certezas e incertezas, as opiniões, tudo isso deve ser medido pelos espectadores. Não dá pra simplesmente para assistir um filme sem pegar sua essência, sem entender o que ele vai tratar, ou melhor, o que o diretor quis na hora de rodar tal filme. Estou escrevendo tudo isso para falar do magnífico e injustiçado Maria Antonieta (Marie Antoinette, 2006. França,EUA). O filme da diretora Sofia Coppola (filha do gênio Francis Ford Coppola) foi vaiado (vaiado mesmo) no Festival de Cannes há três anos, justamente por não tratar da história de Maria Antonieta de forma fiel, como está nos livros de História. E porque eu acho um filme que não segue as linhas da “verdade” magnífico?
Maria Antonieta talvez seja a soberana mais odiada de todos os tempos. Acusada de ser uma rainha indiferente com seus súditos e com os problemas da França, de gastar todo o dinheiro destinado ao povo francês com festas, roupas e diamantes, Maria Antonieta construiu uma reputação extremamente ruim. O povo realmente a odiava, segundo os dados históricos. Mas, nada desse ódio é representado no filme. A obra foca na figura da rainha francesa, não existe a relação realeza-povo, não existem os efeitos das ações de Maria Antonieta sobre a nação francesa, e é por isso que o filme recebeu tantas críticas pesadas.
Sofia Coppola na hora de escrever o roteiro tinha duas opções pra basear o seu filme. A História, que trata Maria Antonieta no que ela é mesmo e no que todo o mundo conhece: a rainha injusta, fútil e adúltera; e a biografia da rainha francesa escrita por Antonia Fraser, que trata a figura da soberana de forma mais humana e tenta explicar todos os motivos da má fama concedida à rainha com todas as sutilidades possíveis. Sofia escolheu o caminho mais polêmico e também mais difícil, já que tentar desmistificar uma figura histórica deve ser uma das coisas mais difíceis do mundo. E claro que ela não conseguiu. Talvez alguns virem fãs da rainha francesa (como declarou Sofia certa vez), mas, por exemplo, os franceses não engoliram sequer um minuto da obra e por isso recebeu uma onda de vaias em Cannes.
Eu engoli.
Vamos à história (ou História). Aos 14 anos de idade, Maria Antonieta (Kirsten Dunst), herdeira do trono austríaco é mandada para a França para se casar com o neto do Rei Luís XV a fim de selar a paz entre as duas nações. Porém, a jovem vienense não se sente confortável frente às tradições francesas (em certo momento do filme ela diz “isso é ridículo”) e também sofre pressões de todos os lados (tanto da mãe quanto do próprio rei francês) por não conseguir gerar um filho para suceder a linhagem dos Bourbons. O problema reside no seu marido, Luís Augusto (Jason Shwartzman) que demora sete anos pra consumar o casamento com a jovem princesa austríaca. As cenas em que Maria Antonieta procura o marido para enfim selarem o contrato nupcial chegam a ser cômicas, Shwartzman faz o futuro Rei Luís XVI graciosamente, representando toda a passividade e jovialidade daquela criança que aos 19 anos, com a morte do avô, tomaria posse do trono francês. E aí está montado o cenário histórico do fim da monarquia francesa. Maria Antonieta contando com 18 anos torna-se rainha da França. O filme conta todos os passos da vida dessa jovem monarca, nunca tirando o foco de Maria Antonieta que é o centro da história do início ao fim.
Maria Antonieta parecia viver numa eterna juventude, fã de carteado, festas, roupas e sapatos, a rainha vivia para satisfazer seus desejos. Aproveitava incessantemente tudo o que o dinheiro e o título poderiam lhe proporcionar. Era uma adolescente que realmente só queria aproveitar a vida.
Sofia Coppola, desde o início, deixou claro que não queria fazer um filme político, que sua única ambição era representar quem foi a rainha Maria Antonieta, mas não foi possível, durante a obra são apresentadas algumas breves cenas em que se discute a situação estarrecedora que se encontrava a nação francesa e que são crucial para as cenas finais do longa e,também, para o entendimento do fim das personagens e do próprio filme. De certa maneira, Sofia Coppola inocenta e endeusa a figura de Maria Antonieta. É possível ver no filme todo o desinteresse da rainha com as questões que ferviam do lado de fora do Palácio de Versalhes, mas como eu já disse essa não é a verdadeira história que a diretora quer contar.
Kirsten Dunst no papel da soberana mostra que vem amadurecendo como atriz (recentemente ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes com o novo filme do dinamarquês Lars Von Trier), seu sorriso e sua jovialidade dão um ar encantador à personagem. Já não se vê mais apenas a Mary Jane de Homem Aranha. Vê-se uma atriz aflorando.
A parte técnica do filme é primorosa, um trabalho de exímia qualidade. A fotografia de Lance Acord é sublime, tem o grandioso e belíssimo Palácio de Versalhes como cenário da história, usa muito bem as cores (o azul e o rosa), mas isso tudo é mérito da Direção de Arte do filme que supera todas as expectativas ao construir um figurino estonteante e um cenário de dar inveja. A trilha sonora é um capítulo a parte em que a diretora ao invés de usar músicas clássicas, deu preferência por canções modernas que vão desde Strokes e The Cure até New Order. É um acerto em cheio essa opção de trilha, pois nos mostra perfeitamente todo o espírito festivo e descolado de Maria Antonieta. Auxilia na construção da personagem. As imagens e canções presentes no filme são a explicação dos poucos diálogos existentes durante o longa. Elas falam por si só.
A cena final do filme é belíssima e Coppola não poderia ter escolhido um jeito melhor de encerrar a obra. Sutilmente, para não desmerecer o reinado de Luís XVI, a diretora só leva o filme até a derrocada da monarquia e não até o fim concreto de Maria Antonieta. É realmente belíssima a proposta da diretora ao imprimir esse final alternativo à produção.
Tem-se que desapegar dos fatos que conhecemos e assistir a Maria Antonieta como se nunca tivéssemos ouvido falar quem foi essa pessoa. É pra curtir e pensar o que uma garota de 14 anos sente ao ser jogada num lago repleto de crocodilos como era a corte francesa. E o que essa garota, rainha aos 18 anos, sabe de governar um país, tendo, assim, que abdicar de uma fase tão gloriosa da vida (a qual ela não abdicou). Não tem como não se apaixonar pelo retrato que Coppola fez de Maria Antonieta. Se é o verdadeiro? Não sei. Apenas deixe fluir porque vale cada minuto.
Para o meu brioche de São João del Rei :)
Marcadores:
2006,
Cannes,
crítica,
Jason Schwartzman,
Kirsten Dunst,
lance acord,
Maria Antonieta,
Marie Antoinette,
pop,
Sofia Coppola
Assinar:
Postar comentários (Atom)
esse filme é maravilhoso mesmo, sou super fã! adoro todos os detalhes dele! nem preciso comentar que eu surto na cena em que toca What ever happened né? muito bom, muito bom! ótima resenha, guzinho!
ResponderExcluirbeijo
muito bom!
ResponderExcluirNossa sou apaixonada por tudo nesse filme!Maria Antonieta e Virgens Suicidas foram os filmes que me fizeram gostar da Kirsten Dunst! Esqueçam a Mary Kate e qqr outra bobagem que ela já tenha feito na vida, to comendo os dedos pra ver o q o Larz fez com ela!!
ResponderExcluirBrioche de São João Del Rei, ownn... kkk
Linda resenha!! Que saudade de vc!!
Beijo
Querridoooo...
ResponderExcluirnossa que show detalhes...
não poderia ser diferente vindo de vc...
parabens..
bjussssss eu amoooooo esse filmeee....
Paulinha Ribeiro
Mari, tbm to louco pra ver "Melancholia" que o Lars fez com ela,, pelo jeito o filme deve ser muito foda. Até Cannes ela ganhou..
ResponderExcluirPromete mesmo.
e a gente assiste junto.
O Filme "Maria Antonieta" é incrível,tanto a direção como o elenco,figurinos,trinha sonora etc. Amo a Kirsten Dunst ótima atriz.
ResponderExcluirMuito impreciso historicamente.
ResponderExcluirNão é à toa que foi tão rejeitado na França.
Acho que seria assim um filme da Dilma feito pelos marketeiros do PT.
Muito impreciso historicamente.
ResponderExcluirNão é à toa que foi tão rejeitado na França.
Acho que seria assim um filme da Dilma feito pelos marketeiros do PT.
Muito impreciso historicamente.
ResponderExcluirNão é à toa que foi tão rejeitado na França.
Acho que seria assim um filme da Dilma feito pelos marketeiros do PT.
Muito bom o filme!
ResponderExcluir