sábado, 9 de março de 2013

O que eu não vi (Crítica: Argo / 2012)

"Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação."



Não se abaixa a cabeça para grandes histórias, não se ignora grandes feitos de heroísmo genuíno, bravura inabalável e disposição pioneira. Não esqueceremos dos grandes filmes, dos inesquecíveis diretores, dos inquestionáveis atores. Edificação, comprometimento, inovação, colaboração, interpretação. Afinal, o que faz de um filme um verdadeiro grande filme? Responsabilidade, coerência, emoção, produção, talento, julgamento. Afinal, me diz, o que faz de um filme um verdadeiro grande filme? Desculpem-me a arrogância, se isso puder parecer, mas será que Argo é realmente a obra-prima que muitos estão pintando por aí?

Ben Affleck já comeu o pão que o diabo amassou ao longo de sua carreira. Após um início glorioso, influência de seu Oscar de roteiro por Gênio Indomável, Affleck andou bem perdido pelos becos e vielas do Cinema. Pisou em cacos na carreira de ator, se prevenindo de filmes mais pensantes e sensitivos, mas, ainda sim, permanecia vivo na mente do público. Como não lembrar do horror descabido que foi "Demolidor - O Homem Sem Medo"? Não dá. A carreira de Ben Affleck começou a dar um salto quando, em 2007, filmou o bom "Medo da Verdade", revelando-se um diretor infinitamente mais sensível em relação ao ator mediano que sempre foi. Depois disso, trabalhou no ótimo "Atração Perigosa" para chegar finalmente em 2012 e lançar o filme que definiria sua jovem caminhada.

Argo, acima de tudo, é uma injeção de cupcakes ao espírito nacionalista americano - vide a constrangedora participação de Michelle Obama na premiação do Oscar - que hora ou outra mistifica cada vez mais o "ser" americano no mundo de hoje, abraçando uma causa cívica que, provavelmente, sem querer acaba enaltecendo o modo de vida e a coragem no momento das realizações que só uma pátria e um único povo parece ter.



Sem apelar para o extremismo - nisso Affleck se mostra bastante inteligente na condução da trama- e nem deixar o clímax cair, o roteiro vencedor do Oscar, do talentoso Chris Terrio, revisita um fato histórico, de 1979, que marcou a história de Hollywood e do governo americano, que se juntaram numa invenção gigantesca para resgatar seis refugiados no Irã, que se encontrava em plena revolução contra o sistema político nacional e a intromissão tão característica dos norte-americanos. Tony Mendez (Affleck, péssimo), agente da CIA, é o grande mentor do plano de fuga dos refugiados e, conforme o combinado, finge-se de diretor de Cinema, procurando locações em terras iranianas. O plano estabelecia a cada um dos refugiados um papel nessa fantasiosa produção, tornando quase impossível o descobrimento por parte dos rebeldes, que supostamente acreditariam na farsa.

O filme de Affleck começa muito bem. A narração rápida do começo causa tensão e promete um filme fervoroso, pronto para dar o sangue fictício a história de Tony Mendez. Logo depois, em fantástica habilidade técnica, o filme corta para as cenas de revolução nas ruas de Teerã, capital do Irã, em que os rebeldes ensandecidos, numa língua assustadora, ameaçam invadir a Embaixada dos EUA. O som é incrível, a montagem também beira a perfeição e a trilha sonora se traduz impecável, até que Affleck, o ator, entra em cena.



Apoiado em câmeras estranhas, pouco inspiradas, Affleck começa a filmar a decomposição de todo o roteiro, os truques para colocar o plano em prática, a chegada ao Irã e finalmente a saída do país, com todos os seis refugiados salvos. Algumas das cenas se mostram primárias, os clichês mais bestas são vistos de olhos fechados, como a cena em que o personagem de Affleck fica olhando, com olhos marejados, a felicidade dos "reféns libertados", enquanto esses retribuem com olhar de agradecimento e veneração. Muito infantil. Affleck ainda conta com um Alan Arkin chato e um John Goodman "paquitão" transitando pelo seu filme. De forma geral, o elenco é bastante chato e os personagens montados demais; os diálogos são longos e pouco explicativos e, durante todo o tempo piadas hollywoodianas sem a menor graça vãos endo jogadas ao espectador, exemplo disso é a premissa "argofuckyourself", repetida mais vezes que o necessário por inúmeros personagens. Só pra não deixar passar, Argo é o nome do roteiro do filme-fake. Embora tenhamos um início promissor, o resultado final acaba por se revelar uma verdadeira besteira, totalmente esquecível como a maioria das questões levantadas pelo filme. Se você não for norte-americano, metade dessa história já não deveria ser tão fascinante assim.

Ben Affleck amadureceu? Sim, de forma espantosa. Mas daí até lhe responder com o Oscar de Melhor Filme é um tremendo exagero ufanista, que só não percebeu quem não quis. E ainda teve gente exigindo Oscar de direção, quiça... de atuação.

2 comentários:

  1. Ele certamente tem sido a melhor produção de Ben Affleck, vale a pena ver Argo é um filme contou com inteligência, bom ritmo e um elenco muito atraente.

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  2. Acho o filme problemático em alguns pontos, mas quando vejo essas críticas tão arrogantes eu fico triste. "Allan Arking chato" e "um John Goodman paquitão" me soa como sendo uma crítica preguiçosa. E isso ocorre em vários momentos no texto. É uma pena.

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