segunda-feira, 9 de maio de 2011

Anjo Mau (Crítica: O Leitor / 2008)



"Não importa o que eu penso, não importa o que eu sinto. Os mortos continuarão mortos" (Hanna Schmitz).

Fantástico. Com uma única palavra eu consigo definir O Leitor (The Reader, 2008. Inglaterra). Filme pesado, complexo, mas acima de tudo edificante, emocionante (no final pesa um pouco no açúcar, mas é o de menos) e que conta uma história diferente de tudo que eu já vi.



O diretor e roteirista inglês Stephen Daldry é conhecido por trabalhar em pouquíssimas produções, essa é apenas a terceira da carreira dele de pelo menos quinze anos. Porém, cada vez que ele pega num papel pra escrever um roteiro saem histórias sublimes, como é o caso de Billy Elliot (2001) e As Horas (2002). E não é diferente com esse. O diretor escolhe seus atores a dedo e faz uma produção invejável, com fotografia, trilha sonora e montagem de cair o queixo. Talvez ele precise desse tempo mesmo (6 anos) pra rodar um próximo trabalho, por que o que resulta é de aplaudir de pé.

O roteiro é baseado num livro curto (235 páginas), escrito por um autor alemão e tem como fundo uma história de amor entre um menino de 15 anos e uma mulher de 35 que se apaixonam durante o Holocausto, pra quem não conhece, o Holocausto seria a Segunda Guerra Mundial. A produção começou com uma série de problemas, primeiramente, Nicole Kidman tinha sido escalada pra viver o papel de Hanna Schmitz e por uma série de contravenções teve que ser substituída por Kate Winslet (convenhamos que o filme só ganhou). Mais tarde, o filme chega ao cinema como vilão, pois foi ele quem tirou de Batman - O Cavaleiro das Trevas a vaga para concorrer a Melhor Filme no Oscar de 2009.



Superada todas essas questões, voltemos a obra (que definitivamente não pode nem deve ser esquecida).

Em Meados dos anos 30, o jovem Michael Berg, interpretado pelo alemão e iniciante David Kross, inicia um romance com uma mulher mais velha (Hanna Schimitz). O jovem se encanta pela mulher misteriosa e por toda sua experiência, e Hanna (que até então não sabemos do seu problema) se encanta com o poder da leitura que o menino tem. Detalhe: ele apenas sabe ler. O que acontece são descobertas diferentes para os dois, para ele, a iniciação na vida sexual e para ela, a literatura. Isso é o que o filme tem de mais puro e bonito: girar em torno de uma história tão simples e real. Então toda a prática sexual é intercalada por momentos de leitura, em que o menino anestesiado pela paixão lê para a mulher dura e reclusa, apaixonada por histórias que é Hanna. Repare em Hanna durante as leituras. Ela some, viaja para outro mundo, é arrepiante. (Garantindo lindas cenas para o currículo da atriz Kate Winslet).

Porém, esse romance só dura um verão, já que Hanna some no mundo sem deixar pistas e Michael, desolado, tenta seguir sua vida. Anos mais tarde, como estudante de Direito, Michael vai assistir a um julgamento de crimes de guerra, e quando chega no tribunal dá de cara com Hanna no banco dos réus. Hanna é acusada de matar centenas de mulheres durante a Segunda Guerra, quando esta foi guarda da SS, grupo ligado às forças nazistas. Nas cenas do julgamento, Kate Winslet praticamente não abre a boca, mas diz tudo com os olhos. A gente enxerga ela pensando: “Mas o que eu estou fazendo aqui? Eu apenas cumpria a lei”. São lindas cenas também, e que promovem reação de compaixão do espectador para com a personagem, pois enxergamos nela a essência de uma mulher ignorante, controladora, determinada e sem limites. Até que ponto a ignorância pode ser usada como desculpa? Pois é! É incrível como a gente passa a torcer pra que Michael abra a boca e defenda Hanna durante o julgamento, numa hora que ela está sendo acusada de escrever uma carta e que só você e ele sabem que não foi ela quem escreveu (a segunda cena mais linda do filme). A cena mais linda do filme fica por conta de Kate Winslet mais uma vez, já na prisão, velha, ela dá início a um processo de (eu não posso contar!! hehe). Mas enfim, é a cena mais terna do filme, é lindo demais mesmo.



Queria eu poder pegar na mão de Kate Winslet e dizer MUITO OBRIGADO como fez Marion Cottillard no dia em que entregou o Oscar de Melhor Atriz em suas mãos. Kate Winslet usa das técnicas que vem aprendendo desde o longínquo Razão e Sensibilidade (1995). Desde lá, só entrega interpretações memoráveis, em que ela doa todo o seu corpo pra viver a personagem que for, não tem medo de nudez, de parecer velha, de nada. É atriz mesmo. O novato David Kross também não faz feio, só de não atrapalhar Kate em cena ele já estava fazendo grande coisa. O único que talvez esteja um pouco fora de sintonia seja o ator galês Ralph Fiennes (interpreta Michael Berg mais velho), mas também não chega a prejudicar tanto, já que Winslet eclipsa qualquer movimento do ator.



Outra coisa que deve ser lembrada, é que o filme não foca no Holocausto, mas só usa essa fase da história mundial como cenário, pano de fundo de outra história. E também o grande uso do silêncio por parte do diretor, o que pra mim, enriquece em muito a obra. (ps: é aquele tipo de silêncio que diz tudo).



Por fim, O Leitor faz o espectador pensar, refletir aquilo que eu já disse anteriormente. Até que ponto a ignorância justifica um erro? Se justifica algum, então dependeria do erro?

No final das contas, o que importa é o que fazemos e não o que sentimos.

3 comentários:

  1. Com certeza, um dos filmes mais senssíveis que já vi.
    E tambem dos mais Lindos.
    Muito bom GUS!
    abraço!!

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  2. adoro esse filme!
    a reflexão que ele nos propõe é maravilhosa e como vc mesmo ressaltou, ele aborda o holocausto e consegue usá-lo como pano de fundo sem cair no no clichê anti-nazi que todos estamos mais do que cansados de ver!

    muito bom o post! muito bom seu blog!
    pela primeira vez consegui comentar!
    hallelujah!

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  3. vlw pedrão por estar sempre comentando no meu blog. e samu pelo primeiro comments que deu certo.
    Fico muito honrado com os elogios de vcs, afinal vcs escrevem belissimamente bem, fico feliz pra caramba mesmo.

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