sábado, 7 de maio de 2011

A Insustentável Estranheza do Ser. (Crítica: Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças / 2004)




"Feliz é o destino do inocente, esquecido pelo mundo que ele esqueceu." Alexander Pope


Sempre fui amante dos filmes dramáticos, edificantes e até mesmo os trágicos. Aqueles filmes que te dão margem à reflexão, que te fazem crescer como ser humano e que mostram a capacidade do Homem em tocar o coração do espectador. É isso o que acontece nesse Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004. EUA) do diretor Michel Gondry e do roteirista Charlie Kauffman.

Para quem não conhece, Kauffman é responsável por escrever os roteiros mais inusitados do mercado cinematográfico e que sempre gera ótimos filmes, como Quero ser John Malkovich (1999) e Adaptação (2003). Mas nessa obra ele se supera, escreve uma história linda de amor (mas precisamente de problemas de relacionamento) , paixão, ciência (embora insana) e coragem.



O filme, devo confessar, não vai agradar logo de cara por uma série de motivos. Um deles é a história, que se não for apreciada com olhos de criança não vai ser entendida e nem contemplada. O outro é o simples fato de escolherem Jim Carrey para protagonizar esse drama, nem de longe ele faz feio. Não. O problema é que um ator extremamente repleto de estereótipos pode causar algum tipo de pré-conceito no possível espectador. Eu digo que não, se houver males no filme ( que eu acho que não há) Jim Carrey é o menor. E, por fim, a falta de linearidade da narrativa (o filme não é fácil de entender), que pode tornar a experiência de ver o filme um pouco confusa, talvez precise ser assistido mais de uma vez.



Mas vamos à história.

Se você pudesse apagar da sua memória todos os sofrimentos e lembranças tristes que você guarda desde os primórdios de sua vida, você apagaria? Você acha que seria a pessoa que é hoje se não tivesse passado por todas as peças que a vida lhe pregou? Afinal, é muito mais fácil esquecer, como se não tivesse vivido àqueles momentos ruins do que tentar vencer esses obstáculos.

Basicamente, a história do filme é essa. Joel ( Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet, sempre ótima e indicada ao Oscar de Melhor Atriz pelo papel) possuem uma história de amor que começa a enfrentar uma crise, por isso, ela resolve apagá-lo da memória através de um procedimento médico criado pelo Doutor Howard (Tom Wilkinson). Ao descobrir que Clementine fez o procedimento, Joel, para se vingar, resolve fazer o mesmo. E aí vem o desenrolar da trama. No decorrer do procedimento, que leva algum tempo, Joel percebe que não quer apagar Clementine da sua memória, mas pelo contrário, ele quer manter acesa todas as lembranças felizes que ele teve com a mulher. Assim, o filme parece ser bem simples, mas apoiado no roteiro fabuloso de Kauffman e na brilhante montagem da obra, o filme tem um desenrolar incrível. Joel querendo salvar Clementine do possível “deletamento” começa a criar lugares dentro de sua mente e a levá-la esses lugares, que na verdade, ela nunca esteve. Aqui percebe-se que Joel está lutando inconscientemente, enquanto o procedimento de esquecimento está sendo feito.



Mas toda essa aparente estranheza só enriquece o filme, quem prestar bem atenção verá que tudo se encaixa maravilhosamente bem, todas as aventuras de Joel dentro da sua mente: a volta a infância, os diálogos (incríveis) entre ele e Clementine , os momentos bons e os momentos ruins da relação. Tudo isso faz a gente torcer para o casal, pra que nenhum esqueça o outro, pra que eles enxerguem que se amam. Isso torna o filma terno, tocante, pois sabemos que aquilo ali não é nada mais nem menos que nossa vida.

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças é isso, um romance triste e feliz, uma grande reflexão sobre escolhas e destinos da vida. Inesperadamente, na hora do desespero a gente pode optar por apagar alguém da nossa mente, mas isso não significa que a gente não ame essa pessoa. É só mais fácil, menos doloroso.

É angustiante tudo o que sofre o personagem de Jim Carrey, a gente segue seus passos no filme, sorri para a tela no momento em que achamos que tudo vai dar certo, choramos quando achamos que tudo vai dar errado. Às vezes parecem duas crianças ingênuas. O pior de tudo é perceber o amor e achar que este está se esvaindo quando Joel não encontra Clementine em certo lugar.
Descobrimos que torcemos pelo amor.



É um daqueles filmes estranhos, mas que encantam e conquistam talvez pela estranheza do roteiro, dos personagens (cada hora Clementine aparece com uma cor de cabelo diferente: azul, verde), pela história que ao mesmo tempo que é irreal se torna tão real pra quem assiste.

No fundo, é aquela história que a gente já está cansado de saber: é melhor viver intensamente, do que simplesmente passar pela vida. Merece ser visto, pois trata-se de um grande filme.



Dedico esse post a melhor estranha que já conheci, mas agora ela "tá" na Oca dela.

7 comentários:

  1. prometo tentar fazer posts mais curtos,, hahha até eu me assustei com o tamanho desse. Desculpa gente. Espero que gostem, apesar do tamanho

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  2. Vi esse filme no Telecine Cult uma vez e fiquei viciado. Uma pena que saiu de cartaz lá.

    É uma ótima pedida para assistir no frio que vai chegar aqui, no Campo das Vertentes.

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  3. Gustavo!
    Mais uma vez maravilhoso...
    e com certeza otima escolha...
    não me canso deste!
    Adorei o texto e a visões...
    Abraço kra!
    Continua! aeiuhsiuhisuhe

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  4. ouu galera. Tô aceitando sugestões de filmes que vcs queiram ver com uma resenha no blog, algum ator ou diretor na coluna semanal, é só falar comigo. Pode ser aqui no blog mesmo, mas tem meu twitter @gustavopavann e meu e-mail gustavopavann@hotmail.com. Abraço

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  5. Eu entendi a dedicatória e agradeço.


    seus comentários estão cada vez mais lindos, posta mais :)))))))


    beijos

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  6. Hoje que ví esse filme..tempos depois de falar tanto nele..De verdade..estou perplexo por tanta maravilha junta que há nele...enxerguei muitas coisas nele e quando li sua crítica não sabia que a junção do filme com a mesma me faria ver tanta coisa e quem sabe parar de verdade para ver que mundo é esse que vivemos..Gustavo...de verdade..Parabéns e obrigado por fazer esta crítica e me mostrar nesse mundo corrido que existia esse filme, para iluminar um pouco mais esse "leigo" , que agora ta começaaaaaandoo a deixar de ser. Agradeço! Grande Abraço!

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